O bispo, «servidor de todos», como qualquer cristão

Santo Agostinho (354-430)bispo de Hipona (norte de África), doutor da Igreja
Sermão 340 A, para uma ordenação episcopal no ano 411

Todo aquele que está à cabeça do povo deve recordar antes de mais que é o servo de todos, e nunca desdenhar deste serviço […], uma vez que o Senhor dos senhores (cf 1Tm 6,15) Se dignou pôr-Se ao nosso serviço. Foi a impureza da carne que insinuou aos discípulos de Cristo uma espécie de desejo de grandeza, fazendo-lhes subir à cabeça os vapores do orgulho. Lemos, com efeito: «Levantou-se também entre eles uma questão: qual deles se devia considerar o maior?» (Lc 22,24); mas o Médico, que estava com eles, refreou-lhes a presunção […], dando-lhes como exemplo de humildade uma criança (cf Mt 18,1-5). […] Não esqueçamos que o orgulho foi o primeiro mal e a origem de todo o pecado. Por isso, entre outras virtudes dos responsáveis pela Igreja, o apóstolo Paulo recomenda-nos a da humildade (cf 1Tm 3,6). […] Quando o Senhor quis fortalecer os seus apóstolos na humildade, disse-lhes: «Quem entre vós quiser tornar-se grande, seja vosso servo» (Mt 20,26). […] É como bispo que vos falo e, por conseguinte, a mim próprio dirijo estas palavras […], porque Cristo «não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela redenção de todos» (Mc 10,45). Foi assim que Ele serviu – dando a sua vida para nos resgatar – e é assim que quer que também nós sirvamos. Qual de nós tem poder para resgatar quem quer que seja? Fomos resgatados da morte pela sua morte e pelo seu sangue; nós, que estávamos caídos por terra, fomos reerguidos pela sua humildade. Agora, devemos fazer a nossa parte pelos seus membros, porque fomos constituídos como tal: Ele é a cabeça, nós o corpo (cf Ef 1,22-23). É por isso que o apóstolo João nos exorta a imitá-lo, dizendo: «Ele deu a sua vida por nós e nós devemos também dar a vida pelos nossos irmãos» (1Jo 3,16).

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