Uma Quaresma com Bilbo Bolseiro
Joseph Pearce Tradução: Equipe Christo Nihil Præponere
O que Bilbo Bolseiro tem a ver com o período penitencial da Quaresma? O que uma pequena criatura de um conto de fadas, de uma obra literária de fantasia, tem a ver com os pormenores da penitência, ou com o jejum e a oração?
O que Bilbo Bolseiro tem a ver com o período penitencial da Quaresma? O que uma pequena criatura de um conto de fadas, de uma obra literária de fantasia, tem a ver com os pormenores da penitência, ou com o jejum e a oração?
A resposta pode ser encontrada na insistência de Tolkien de que os contos de fadas são um espelho para o homem. Eles revelam-nos a nós mesmos.
Tal como as histórias de ficção que Cristo nos conta no Evangelho, “O Hobbit” é uma parábola que ensina lições inestimáveis sobre a vida espiritual. Concretamente, toda a história pode ser vista como uma meditação sobre o texto do Evangelho de São Mateus (6, 9-21):
Não acumuleis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e a traça os consomem, e onde os ladrões perfuram as paredes e roubam. Entesourai para vós tesouros no céu, onde nem a ferrugem, nem a traça os consomem, e onde os ladrões não perfuram as paredes nem roubam.
No início de “O Hobbit” recebemos a informação de que uma toca de hobbit significa conforto. Bilbo Bolseiro é uma criatura do conforto viciada nos confortos das criaturas. Recusa-se a deixar sua casa, sua zona de conforto, porque está possuído por suas posses. Por isso, Gandalf, o feiticeiro sábio e enrugado, convence Bilbo a partir numa aventura com os anões. O hobbit precisa aprender o que G. K. Chesterton ensina: uma aventura é um inconveniente bem ponderado. É abraçando o incômodo, o desconforto, o sofrimento, que Bilbo cresce em sabedoria e virtude. Aprende a desapegar-se dos seus bens mundanos e a dar a vida por seus amigos. Aprende a acumular tesouros no céu. Aprende a amar.
Aprende que o acúmulo de tesouros na terra é a “doença do dragão”, a possessividade que possui a alma. Aprende que não apenas os dragões são afetados pela doença do dragão, mas que essa possessividade pode afetar hobbits e anões — e homens.
Quando Bilbo Bolseiro volta para casa no final da história, descobre que seus vizinhos estão vendendo os pertences dele por acharem que estava morto. Na verdade, ele estava morto antes de partir para a aventura. Ou, pelo menos, não estava totalmente vivo. É na aventura, na peregrinação, que ele aprende a morrer para si mesmo, dando a vida pelos outros. Morreu e ressuscitou. É um novo Bilbo que volta para casa. É um hobbit ressuscitado porque morreu para si mesmo e ressuscitou dos mortos. Será que a aventura de Bilbo é diferente da aventura da própria Quaresma?
Via: padrepauloricardo.org