«Colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda»

São Gregório Magno (c. 540-604) papa, doutor da Igreja
«Morais sobre Job», Livro XI, SC 212

«Nenhum ímpio é admitido à sua presença» (Job 13,16). Estando dito que, à sua vinda, o Juiz colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda, porque é que se diz agora que o ímpio não entrará na sua presença, quando os ímpios deverão estar, evidentemente, entre os cabritos, e portanto à esquerda do Juiz? Temos de compreender que vamos à presença do Senhor de duas maneiras. Primeiro, neste mundo, quando, pesando escrupulosamente os nossos pecados, nos colocamos na sua presença e, em lágrimas, nos tornamos juízes de nós próprios. Sim, sempre que tomamos consciência do poder do nosso Criador, colocamo-nos na presença do Mestre. […] Chegaremos à presença do Senhor de outra forma no dia do Juízo Final, quando comparecermos perante o seu tribunal. […] Quando contempla o rigor do Juiz que há de vir, o justo recorda os seus pecados, lamenta o mal que cometeu e torna-se rigoroso juiz de si próprio, a fim de não ser julgado; o ímpio, pelo contrário, quanto mais agrada aos homens exteriormente, tanto mais desdenha olhar para dentro de si mesmo; confiando nas palavras daqueles que o rodeiam, imagina que é santo, porque se julga considerado como tal pelos homens. E assim, enchendo o espírito com essas palavras de louvor, não considera em que coisas ofende o juiz interior; e não teme o seu rigor, porque julga que lhe agradou tanto como agrada aos homens. […] É razoável, pois, dizer que «nenhum ímpio é admitido à sua presença», porque, ansioso por agradar aos homens, não tem o rigor de Deus diante dos olhos. Se examinasse a sua própria alma e se colocasse na presença de Deus, deixaria de ser ímpio.

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