«Seja feita a vossa vontade, assim na Terra como no Céu»
São João Cassiano (c. 360-435)fundador de mosteiro em Marselha
«Sobre a oração», XX, SC 54
A terceira petição dos filhos [na oração do pai-nosso] é: «Seja feita a vossa vontade, assim na Terra como no Céu». Querer que a Terra mereça ser igual ao Céu: não pode haver oração mais elevada. Pois dizer «seja feita a vossa vontade, assim na Terra como no Céu» não será o mesmo que pedir que os homens sejam como os anjos, e que, assim como esses espíritos abençoados fazem a vontade divina no Céu, todos os homens a façam também na Terra, a vontade de Deus e não a sua? Eis uma prece que só pode ser feita do fundo do coração por quem acredita que Deus dispõe todas as coisas deste mundo, alegrias e infortúnios, em nosso proveito e Se preocupa mais com a salvação e os interesses daqueles que Lhe pertencem do que eles próprios. Também podemos entender este pedido no sentido de que é vontade de Deus que todos se salvem, segundo as conhecidas palavras de São Paulo: «Deus […] quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade» (1Tim 2,4). É a esta mesma vontade divina que se refere o profeta Isaías quando diz, em nome de Deus Pai: «O meu plano realizar-se-á; executarei a minha vontade» (Is 46,10). Assim, pois, quando dizemos: «Seja feita a vossa vontade, assim na Terra como no Céu», estamos a pedir, por outras palavras, que, assim como os que estão no Céu foram salvos pelo conhecimento do vosso nome, assim o sejam também, ó Pai, todos os que estão na Terra.